sexta-feira, 17 de julho de 2009

Mestre Zizinho



Antes de Pelé, esse era o cara. Considerado a inspiração de lendas como o próprio Rei e Gerson. O respeito que os outros jogadores tinham por ele era tão grande, que aos 25 anos já era conhecido como Mestre Ziza, e nos anos derradeiros como jogador só era chamado de Seu Zizinho pelos companheiros.

Meia-atacante artilheiro, era o exemplo clássico do camisa 10 de outros tempos. Toque de bola refinado, senso apurado de gol, e uma técnica absurda. Extremamente competente em praticamente todos os fundamentos ofensivos do esporte.

Foi jogador profissional no período de 1939 a 1962. Iniciou a carreira pelo Flamengo, onde foi o substituto de Leônidas, o Diamante Negro, o que não pareceu pesar nem um pouco ao jovem Zizinho. No seu período com o clube da Gávea, marcou 146 gols em 329 jogos. Foi tricampeão carioca, conquistando os títulos de 1942, 43 e 44.

Em 1950, foi negociado ao Bangu em uma transação polêmica, da qual Zizinho dizia guardar muita mágoa. Após passar 18 anos gloriosos com o Flamengo, conta-se que foi transferido sem ao menos ser consultado antes. Zizinho ao saber da transação, assinou o contrato sem sequer ler, segundo se conta ele só fez um comentário ao presidente do Bangu: "Se o Senhor pagou tanto pelo meu passe é porque reconhece o meu futebol".

Já na Copa de 1950, realizada no Brasil foi um dos destaques, senão o grande craque daquele time. Mesmo sem participar dos 2 primeiros jogos, por contusão, ele entrou no time e teve atuações primorosas. Nos jogos contra Iugoslávia, Suécia e Espanha, jogou de forma impressionante, levando um jornalista italiano a declarar: "Seu futebol faz recordar o mestre Leonardo da Vinci pintando alguma obra rara".

Diz-se que a partida de Zizinho quando o Brasil venceu a Iugoslávia pela primeira fase do torneio mundial, foi a melhor partida já realizada por um jogador com a camisa da seleção brasileira. Nesse jogo, Mestre Ziza não errou nenhum passe e ainda fez o segundo gol, na vítoria brasileira por 2X0.

Apesar de tudo, a seleção brasileira não conseguiu superar o favoritismo exacerbado, e foi derrotada pelo Uruguai na final, em pleno Maracanã. Zizinho mesmo sendo considerado como melhor jogador da Copa de 1950, saía de campo aos prantos. Muitos anos depois, dizia ainda ter pesadelos com aquele jogo.

Em 1957, ele foi para o São Paulo, e ajudou o clube a ser campeão paulista. Nesse ano, acabou encontrando em campo, o então jovem camisa 10 do Santos que ficou muito impressionado em enfrentar o grande mestre.

Um trecho do que o Pelé fala sobre Zizinho em sua auto-biografia:
"Eu era o jogador mais novo da liga e admirava os veteranos, especialmente Zizinho, que jogava no São Paulo. Ele fora o atleta mais empolgante da Copa do Mundo de 1950, e eu me emocionava de poder jogar contra ele agora. Lembro-me de uma partida, em novembro de 1957, em que o São Paulo levou a melhor sobre nós. Venceram por 6 a 2 e Zizinho deu uma verdadeira aula. Foi impressioante. Os seus passes, chutes, posicionamento - era tudo uma beleza.(...) Zizinho foi o jogador que eu mais idolatrei".

Após encerrar a carreira como jogador no Audax do Chile, aceitou o desafio de ser técnico, e dirigiu as equipes do Bangu, America-RJ e Vasco. A frente da seleção brasileira olímpica, venceu o Pan-Americano de 1975 e foi campeão pré-olímpico. Depois de aposentar-se definitivamente do futebol, Zizinho tornou-se fiscal de rendas do Estado do Rio de Janeiro, função que exerceu até a aposentadoria.

Ele faleceu em fevereiro de 2002, em Niterói, aos 79 anos.

Zizinho deixou um legado valioso de futebol jogado com classe, técnica e categoria, que inspirou toda uma geração de jogadores que levaram a frente a sua herança do futebol arte, símbolo do Brasil. Foi um craque entre os craques. Pena serem tão raros os registros desse gênio em ação. Além disso, por toda a sua carreira mostrou-se além de um excepcional jogador, um homem de caráter, que soube conquistar e manter o respeito de todos que o cercavam, não apenas por sua habilidade nata, mas sobretudo por sua honra e dignidade.

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