sábado, 9 de outubro de 2010

Marcus Aurelius - O imperador filósofo



O imperador romano Marcus Aurelius é certamente, uma das figuras mais interessantes da história antiga. César Marco Aurélio Antonino Augusto (em latim Caesar Marcus Aurelius Antoninus Augustus), conhecido como Marco Aurélio (26 de Abril de 121 — 17 de Março de 180), foi o senhor do Império Romano desde 161 até sua morte.

Seu reinado foi marcado por guerras na parte oriental do Império contra os partas, e na fronteira norte, contra os germanos. Foi o último dos cinco bons imperadores da hitória romana, e é lembrado como um governante bem-sucedido e culto; dedicou-se à filosofia, especialmente à corrente filosófica do estoicismo, e escreveu uma obra que até hoje é apreciada, Meditações.

Para quem assistiu o filme Gladiador (2000), Marco Aurélio é o pai do malvado vilão Comodo, e tem um papel importante na trama, apesar de morrer no meio do filme.

Aqui vão alguns trechos selecionados das Meditações - uma obra que não foi escrita para ser publicada, pois, trata-se como o nome indica, de um registro dos pensamentos íntimos de Marco Aurélio, mas que podem ser reflexões válidas ainda nos dias de hoje, para nós, meros plebeus...



" Recusa tudo mais e retém apenas esses poucos ditames; lembra, ainda, que cada um vive apenas o presente momento infinitamente breve. O mais da vida,ou já se viveu ou está na incerteza.
Exíguo, pois, é o que cada um vive; exíguo, o cantinho de terra onde vive; exígua até a mais longa memória na posteridade, essa mesma transmitida por uma sucessão de homúnculos morrediços, que nem a si próprios conhecem, quanto menos a alguém falecido há muito."

"Entre as noções mais à mão, sobre as quais te inclinarás, estejam estas duas: primeira, que as coisas não atingem a alma; param fora, quietas, e os embaraços vêm exclusivamente dos pensamentos de dentro; segunda, que tudo quanto estás vendo se transformará dentro de instantes e deixará de existir. Pensa constantemente em quantas transformações tu mesmo presenciaste.
O mundo é mudança; a vida, opinião."

"Não sejam tuas opiniões aquelas que o insolente adota ou quer que tu adotes, mas verifica se, em si mesmas, se conformam com a verdade.
Deves sempre estar pronto para estas duas decisões: primeira, praticar só e precisamente aquilo que a razão do trono e da lei inspira para o bem da Humanidade; segunda, mudar de orientação, se alguém houver que te corrija e dissuada."

"Que é, afinal; a memória eterna? Um vazio apenas. Que é, então, o que merece o nosso devotamento? Somente um alvo: mente justa, atuação no bem comum, palavra que jamais engane, disposição a saudar todo evento como coisa necessária, conhecida, emanada do mesmo princípio e da mesma fonte."

"Tudo é efêmero, tanto o que memora quanto o memorado.
Considera constantemente que tudo procede de transformação; habitua-te a pensar em que a natureza do universo nada aprecia tanto como transformar o que há, para criar novos seres semelhantes."

"Este átimo de tempo, vive-o segundo a natureza e acaba sem revolta, como cairia a azeitona madura abençoando a terra que a produziu e agradecendo à árvore que a gerou."

"Não percebes quantos predicados podes desde logo adquirir, para os quais não tens nenhuma desculpa de inaptidão natural, e insuficiência, entretanto ficas voluntariamente aquém?"

"Alguém comete falta contra mim? Isso é lá com ele; ele tem o seu gênio, a sua atividade. Eu tenho agora o que a natureza comum quer que eu tenha agora, e faço o que a minha natureza quer que eu faça agora."

"Nos ginásios, se alguém nos arranha com as unhas e nos acerta uma cabeçada violenta, não reclamamos, não nos ofendemos, nem o suspeitamos de futuras insídias. Precavemo-nos, por certo; não, porém, como dum inimigo, nem com desconfiança, mas com uma esquiva isenta de malquerença.
Seja mais ou menos assim nos outros setores da vida; relevemos muitas faltas desses como que nossos parceiros de luta; podemos, como dizia, esquivar-nos sem desconfianças nem ressentimentos."

"As mudanças assustam? Mas pode alguma coisa ocorrer sem que haja mudança? Que há de mais caro e familiar à natureza universal? Tu próprio podes tomar banho sem que a lenha seja transformada? Podes comer sem que sejam transformados os alimentos? Pode-se realizar alguma outra ação útil sem transformação?"

"Todos os corpos passam na substância do universo como numa torrente, unificados com o todo e com ele colaborando, como nossos membros uns com os outros."

"Apaga as fantasias dizendo a ti mesmo continuamente: Depende de mim neste momento que nesta alma não haja maldade alguma, desejo algum, em síntese, perturbação alguma; ao invés, vendo tudo como é, trato cada coisa segundo o seu valor. Lembra-te dessa faculdade que tens segundo a natureza."

"Não haja nos teus atos má vontade, nem egoísmo, nem falta de exame, nem contrariedade.
Não embeleze os teus pensamentos a finura; não sejas loquaz nem afanoso.
Ademais, seja o deus que há em ti o superior de um ente viril, respeitável, um estadista, um romano, um príncipe que a si próprio tenha disciplinado, como seria quem aguardasse, desprendido, o chamado para deixar a vida, sem precisão nem de juramentos nem de um testemunho humano.
Além disso, serenidade, prescindindo de ajuda externa, prescindindo de tranqüilidade propiciada por outrem.
Cumpre ser direito; não desentortado."

"Quem preferiu a sua própria inteligência, o seu nume e o culto da dignidade deste, não encena dramas, não dá gemidos, prescindirá do isolamento e da multidão; o que é mais, viverá sem perseguir nem fugir. Absolutamente não lhe importa seja maior ou menor o lapso de tempo em que há de usufruir da alma que seu corpo reveste. Se houver de retirar-se já, partirá com o mesmo desembaraço com que iria a qualquer das outras operações que se podem realizar com discrição e decoro."



Marco Aurélio distribuindo pães ao povo - Obra de Joseph-Marie Vien, 1765

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